quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

(Des)aparecido Rubem


"É extraordinário que eu esteja aqui, nesta casa, nesta janela, e ao mesmo tempo é completamente natural e parece que toda minha vida fora daqui foi apenas uma excursão confusa e longa; moro aqui. Na verdade onde posso morar senão em minha casa?", Rubem Braga.
Todos os anos os agentes culturais e municipalidade comemoram o aniversário de Rubem Braga (maior cronista brasileiro desde Machado de Assis). Apesar de aos 13 anos ter saído do município, do qual seu pai fora o primeiro prefeito, para completar seus estudos... Mais importante é que Rubem jamais tiraria a Capital Secreta de seu pensamento. Levou-a para o mundo.
Bacharel em direito desabrochou seus talentos - como diriam os filósofos gregos - no jornalismo. A vida inteira dedicada ao ofício das letras. Foi correspondente de guerra e cônsul do Brasil. Morou em vários países e em capitais brasileiras.
Atendendo seu último desejo, registrado em bilhete à sua irmã Gracinha (falecida em 2013), suas cinzas foram lançadas no Rio Itapemirim em 19 de dezembro de 1990. A morte física de Rubem Braga jamais apagaria, principalmente para os munícipes, a chama eterna de seu afeto por Cachoeiro.
No trecho de "O desaparecido", do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1969, ele mesmo ressalta:
"Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor".
O aniversário de Rubem Braga traduz-se, portanto, em data solene, a ser reverenciada por todos os cachoeirenses, por tudo o que significou para a cultura do país e, especificamente, por tudo o que dedicou à cidade.
Termino o texto com uma de suas mais famosas passagens:

"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa: Eu sou lá de Cachoeiro...".